sábado, 14 de fevereiro de 2009

Presente de Chá Bar (real)

Querido amigo, conforme o convite do seu Chá Bar, não vou deixar de te brindar com uma receita de drink fantástica. O resto do pessoal já deve ter se preocupado com os rapapés. A minha receita evoca os tempos áureos do nosso Colegial.

O drink em questão é PORRADINHA! Costuma ser feito com pinga pura, mas vodka é uma variável frequente. Atenção, não use cachaça de qualidade, se não for fazer com vodka, faça com branquinha mesmo.

Adicione uma dose de uma das bebidas citadas acima e outra dose de Soda limonada (CUIDADO: tem gente que anda adicionando Fanta laranja por aí, querendo sofisticar, dar u m toque de Hi Fi; fuja disso e mantenha a boa tradição).

Adicione as duas bebidas em um copo de fundo resistente. O copo americano nunca deixou o pessoal do boteco na mão. Antes de beber, tampe a boca do copo com uma das mãos e com a outra, bata o fundo do copo contra o balcão (ok, se você usar mesa ao invés de balcão, não tem problema).

E pronto! A química resultante tem sabor agradável e o drink está listado na categoria "traiçoeiros", junto com o saquê, que não derruba na primeira, mas não te deixa parar de beber.

Apesar de ser o seu presente de Chá Bar, seja generoso e espalhe a receita.

Abração!!

domingo, 23 de novembro de 2008

ZIGUE-ZAGUE (OU DE SOSLAIO)

Ele estudou em uma das mais renomadas instituições para o curso que escolhera, Psicologia. Desde a época dos estágios curriculares, chamava a atenção por demonstrar uma escuta analítica que, não raras vezes, levava os próprios professores a se sentirem embaraçados. Certamente, o retorno que recebia de alguns professores era algo como "você aprenderá com o tempo, a analisar de outra forma (como eu); aquilo-que-você-vê-e-eu-não-vejo não será tratado na supervisão".

Recém formado, não custou a decidir bater asas por outros locais de produção de saber, outras instituições, rompendo qualquer vínculo com a instituição que o formara. Em poucos anos se deu conta do erro que havia cometido, ou pelo menos, um erro estratégico do ponto de vista de quem quer crescer rapidamente e alcançar certas facilidades. Andarilhou atuando como profissional de saúde, de educação, desenvolveu projetos sociais e empreendimentos na área de comunicação. Em menos de cinco anos encheu-se de tudo e com o rabo entre as pernas, foi procurar alguns antigos professores, em suas associações de formação continuada. Nesses locais, o diploma do curso superior, aquele mesmo que nunca contribuiu para a inserção do profissional no mercado de trabalho, é desconsiderado e em seu lugar, o profissional passa os anos correndo atrás de certificações semestrais que o elevem ao status de especialista em pagar cursos.

Ouviu de uma professora que não seria aceito naquela associação, pois a sua carreira até então mostrava que ele mantivera pouco envolvimento com os valores mais puros preservados naquele local. Foi dito que ele parecia andar em zigue-zague, sem firmar-se numa prática que lhe garantisse o ingresso a um dos templos de perpetuação dos saberes e práticas psi, onde realmente se poderia alcançar o reconhecimento (status) tão cobiçado.

Frustrou-se por ouvir aquilo e deu-se o direito de discordar, demonstrando que as suas práticas eram múltiplas e não lineares, mas que levavam todas à construção de um saber que merecia respeito. Saiu de lá e no semestre seguinte participou do processo de seleção para o programa de mestrado de uma renomada universidade pública na sua cidade. Foi na preparação para a vida acadêmica que conheceu o professor que mudaria a sua perspectiva sobre o ziguezaguear. Já na primeira aula do curso, o professor leu a conferência preparada para uma palestra, na qual apresentava um homem catatônico, o corpo todo enrijecido, a cabeça sempre apontando para o céu. Ele estava internado em um hospital psiquiátrico e pelo seu diagnóstico, não sairia de lá a menos que algo muito inusitado acontecesse. Um cão sem dono sempre roçava as suas pernas e o lambia meio de soslaio. O homem mantinha-se rígido dia após dia, olhando para nada além das nuvens no céu. Rigidez apontando para fluidez, catatonia endereçada à fruição. O cachorro parecia nem compor o cenário. Um dia o cachorro foi atropelado na rua e aquele mesmo homem
andou passo a passo em direção à rua, cruzando os muros e portões, pegou o cão em suas mãos e fez os curativos necessários, até que o cão saísse andando por aí. O cão não se prendeu à bondade do homem que ele vivia rondando e lambendo; ao invés disso, saiu andando em zigue-zague, conforme podia, sem se preocupar com o que viria adiante, ou com o que lhe ocorrera no passado.

Ao final da aula, ele contou sobre sua trajetória profissional para o professor, contou de seus descontentamentos e de como não conseguia dialogar com as convicções de muitos de seus pares. O professor fez a seguinte observação: "Você está andando em zigue-zague? Seria legal se estivesse mesmo. Você entende? Mas você acha que está mesmo andando em zigue-zague?" Pensando com calma, ele percebia que sim, mas só em parte. Não andava se escorando nos outros ao seu lado, andava meramente desinteressado pelo que deixava atrás de si e pouco confiante no que lhe surgia pela frente. O cão sem dono que ele era não lambia pernas assim tão a esmo, não inventava ainda novas formas de caminhar, ainda mijava sempre no canto do muro.

Naquele dia, voltou pra casa pensando em seu filho recém nascido. Acomodou um sorriso discreto no canto da boca, quando percebeu que a preservação de sua identidade já não era mais interessante. Seu filho o ensinava a ocupar outros lugares; passava a sentir cada vez mais que não era ele o centro do jogo, nem os outros ao seu redor, nem as suas ocupações pessoais. Seu filho, um pequeno filhote de raças misturadas, ensinava que a vida era algo sem rosto, sem status, sem prazo para acontecer. Seu filhote o ensinava a viver isso, escorando em quem estiver ao lado (não disperdiçando a chance para algumas lambidas). Andar em zigue-zague poderia continuar sendo visto com certas reservas pela Grande Associação na qual tantos ainda vão para "se formar". Mas ele já não precisava mais de algo que a Psicologia, de fato, não lhe daria; ele estava pronto para pensar a vida sem as barreiras do corpo, dos fluxos de entrada e de saída, dos acontecimentos de "natureza interior" e de "natureza exterior", dos fenômenos fisiológicos em oposição aos mentais/afetivos. A vida só passa por isso tudo de soslaio... enquanto não se deixar capturar.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Terminator

I´ll be back... SOON!

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Na academia de judô, ele não se destacava como atleta, mas tinha um papo diferenciado. Eram todos bons amigos, algo como uma irmandade de lutadores, mais qeu isso. Crianças, jovens e adultos conviviam nos mesmos espaços e cumpriam as mesmas rotinas. Mas era rara a presença de garotas da idade dele, ou mais velhas.

Ele estava na faculdade, falava de filosofia e psicologia, enquanto a maioria dos companheiros falava sobre engenharia e finanças. Por mais de uma vez, mulheres se aproximavam para perguntar sobre Jung, a grandeza do universo, o sentido para além dos corpos celestes...

A vida passa rápido e ele, um lutador que conquistou a faixa preta, abandona a rotina de treinos e torneios para se dedicar à vida acadêmica. Rapidamente vai perdendo contato com os antigos "irmãos" e quando reencontrava alguém era por mero acaso, em festas improváveis. Numa dessas, reencontrou uma colega de treinos, com a qual nunca tivera muito contato. Estavam em um centro cultural mambembe, onde uma banda tocava forró e ska ao mesmo tempo.

Eles conversaram e os seus olhos começaram a brilhar. Ela esperava a ligação de outro homem, com quem mantinha alguma relação. Em certo momento da noite, ela já sabia onde encontraria o seu "ficante", mas foi estendendo a noite ao lado do antigo colega. Quando os músicos da banda subiram para fazer uma jam mais descontraída no andar de cima do local, o guitarrista, um antigo caso seu, logo a convidou para subir junto com eles. Ela se enfiou entre eles e virando o rosto, disse:

Vou subir com eles, vamos?

Sim, claro que ele foi. E lá em cima, ela que antes olhava para o guitarrista, logo foi se acomodando ao lado do antigo-novo-quase-amigo. Por mero acaso, no andar de cima, onde estavam agora, tinha uma sala com o piso todo de tatames de palha. Tiraram os tênis e ficaram por lá, sentados no chão, continuaram conversando. Os seus pés começam a se procurar então. O movimento partiu dele. Totalmente a vontade, bêbado ao lado daquele mulherão cobiçado por todos, começou a conquistá-la pelos pés. Os seus acariciavam os dela e assim ela foi se acomodando ao corpo dele. Ambos tinham porte de lutadores, altos e imponentes.

Quando os seus pés já estavam bastante enamorados, ele rolou por cima dela e se beijaram. Esse seria só o primeiro capítulo da história de amor entre os seus pés. Sempre que brigavam, eram os pés dele que buscavam se conciliar com os dela (e só por conseqüência, com ela toda). Massagens nos pés ganharam um significado todo particular. E não por acaso, quando passaram por uma crise na relação, ela voltou mancando com fortes dores no pé. Levou um tempo até que ela deixasse de sofrer a dor do ligamento rompido que no caso deles, era a dor de um coração partido.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Funky Buda no Haja Saco again

É um textículo que já tá aqui, mas vou dar as caras mais uma vez no Haja Saco, nesse sábado, dia 12. O blog é sempre bom e os colaboradores aos sábados trazem sempre boas surpresas.

sábado, 5 de abril de 2008

CHEIROS

Levanto no meio da noite fria de outono, apesar de já ser primavera. Vou no banheiro e consigo sentir o cheiro forte do meu mijo. Reconheci o café que tinha tomado apenas algumas horas antes. Associei pela primeira vez esse aroma a um outro do meu passado. Descobri só agora que era o cheiro do meu avô. Cheiro de café e de algo mais. Remédios talvez. Cheiro de pijama também e de loção pós barba, sempre.

Patético pensar nisso com os pés gelados, a cabeça baixa e os olhos na privada. Mas a situação me jogou para fora de lá, para essa intrigante cena do cheiro do meu avô. Voltei para o quarto pensando no quanto sou viciado em café e no cheiro que terei algum dia.

quarta-feira, 12 de março de 2008

CAFÉ E BOBAGENS

Quando eu estudava na PUC, na segunda metade da década de 90, tinha uma padaria lá na esquina com a avenida Cardoso de Almeida chamada Perfil. E tinha uma outra na esquina de cima, atravessando a avenida, a Flor das Perdizes. Bem, já faz tempo que a Perfil fechou e a concorrente passou a reinar absoluta na região. Investiu em reforma, subiu o nível dos produtos e do atendimento.

Passou a ser o point da região para um cafezinho rápido, aquele suco de laranja refrescante, ou a torta de morango a caminho do almoço na casa da tia.

No mês passado eu comecei a atender um cliente aos sábados de manhã, bem naquele quarteirão. Viciado que sou num café espresso forte e puro, acabo sempre parando lá antes de começar a trabalhar. No espaço da frente, que durante a semana serve de estacionamento, aos sábados predominam as mesinhas onde todos preferem comer, sentindo a brisa da manhã e a fumaça dos ônibus da avenida. O público é o seguinte: famílias jovens com filhos pequenos, casais jovens recém-casados ou namorados e coroas solitários conhecidos na vizinhança, principalmente.

Tudo de razoável bom gosto a não ser por um detalhe. No canto dessa área externa, sentado num banquinho, um tecladista anima a manhã com os clássicos da música popular. Na primeira semana ainda dei sorte, o teclado estava lá armado, mas não vi nem sinal do tecladista. Na semana seguinte fui obrigado a amargar o café puro com o genérico do cãozinho dos teclados.

Achei que o trauma não me permitiria mais tomar café na Flor das Predizes. Por mero acaso (entre os psicólogos, a fé em Deus varia de acordo com o guru que você venera), na terceira semana o cliente me liga desmarcando o atendimento. Por sincronismos que só Jung explica, não sofri uma overdose de café com bobagem, ops, café com tecladinho.

Mais uma semana se passa e no outro sábado estou eu lá, muito mais confiante e valente, querendo entortar o tecladista, pegando pelo chifre. Qual não foi a minha surpresa quando cheguei na padaria e não vi nem rastro de nenhum instrumento musical. Minhas preces foram
atendidas, logo pensei. E com a tranquilidade que pairava no ambiente, fui reparando nas pessoas que, como eu, comem sozinhas no balcão.

À minha esquerda uma cabelereira japonesa comia um X-Bacon cheio de ketchup. Eram 10:30 da manhã. Ela parecia desanimada. Fiquei imaginando se também passava ali todos os sábados. Logo concluí que para ela a música ruim devia ajudar a empurrar o bacon matinal. E depois de notar que naquele dia as mesas do lado de fora estavam mais vazias, por generalização pura e simples concluí que a música ruim também deve amenizar o cheiro dos ônibus que passam na avenida.

Toda a poesia da Flor vem das melodias pré-programadas.

sábado, 8 de março de 2008

Citação

Do punk ao pixel, por ANDRÉ FORASTIERI
"O realismo é insuficiente para representar a realidade. (...) Só outsiders e diletantes abraçaram a novidade. Hoje é óbvio que somente monstros, canibais e distorções podem descrever o horror de 'Guernica'. E as obras destes radicais valem milhões.
(...)
Hoje é impensável imaginar a cena cultural global sem a agressão, o multiculturalismo, a miscigenação, a liberdade estética e comportamental que nasceram do punk e da new wave. Vivemos no mundo que o punk fundou..."

VODKA (remix)

O ato de mutilar uma obra de arte é tradicionalmente visto como um tipo de censura, ou de desrespeito. Mas na pós-modernidade sem lastro histórico, essa prática também vem sendo chamada de releitura.

O texto abaixo foi "editado" por mim, sem consulta à autora. Quem quiser conferir o original, tá publicado na revista CULT nº111, do mês de março de 2007.

VODKA Por Vanessa Maranha

Quanto a mim, continuo. Pouquíssimo constante e, ser for por aí, pelas retas de uma constância inexistente, então não, não continuo. (...)

Secreto? Não, em nada sou secreto. Aliás, ninguém o é. Tudo está posto e transparecido por sinais. Vê quem souber codificá-los. Mas continuo. Acho que um pouco mais intenso, acho que sem pressa. (...)

Ok. Continuo mirando o abismo, um flerte em si, ora avançando, mais cauteloso, um bocado medroso, procurando antes terra firme para onde eu possa voltar vivo e seguro. É incrível como corpo e coração vão sendo sentidos de um modo diferente na ligeireza aparentemente inerte do tempo. Você vê que aos poucos fui me tornando pesadão, macilento, quase escatológico, cada vez mais bicho. Umas refinações de contraponto, mas bicho. Agora selvagem. Não douro a pílula. (...)

(...)

Continuo em movimento. De vez em quando pauso, noutras saio feito doido por aí procurando, querendo, desejando. As coisas se repetem demais exaustivamente, não dá para ficar igual no vaivém dessas ondas. Não quero mesmo. Há muito descobri a falência na constância. Constante, só o infinito, que é dinâmico. Continuo aqui, ali, em lugar nenhum.

O que eu trago e ainda guardo em mim daquela época? Vejamos. Nem o sorriso? Ah, sim. A vontade do novo, pode ser? Não? Lealdade? Pensando bem, não sei descrever o tipo de lealdade que mantemos depois de certa idade. (...)

(...) Gosto muito dessa fluidez acetinada, resistente ao congelamento, essa coisa transparente algo oleosa da vodka. Gosto sim. Sou assim? Se deu certo o meu projeto? De vida? Como eu disse, continuo.

Vanessa Maranha é psicóloga e jornalista.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Filosofismos do cotidiano

BACHELARD ENCONTRA SABOTAGE

Conseguiria o filósofo fenomenólogo Bachelard resgatar o acolhimento originário da figura da casa como primeira morada do ser, se estivesse esse filósofo habituado à vida cotidiana da favela?

Poderiam os corredores e escadas da casa ser comparados às 'biqueiras' e vielas? Na favela ninguém vive num barraco, vive-se na comunidade. O barraco não pode ser lido como 'casa', talvez apenas como aposento, talvez apenas como porão. A casa/comunidade é um local de acolhimento-no-mundo, intimidade pública. E o barraco/porão não responde à necessidade de acolhimento do ser, pois na escuridão a polícia vive chutando a sua porta.
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Já escrevi sobre o provável choque de Heidegger perante a internet. E depois li no caderno Mais! Da Folha, alguns trechos de ensaios do Timothy Leary, o guru do LSD nos anos 60 que caiu no "espaço ciberal" nos anos 80 e 90. O computador é o novo LSD que permite uma reconfiguração/reordenação da experiência vivida e ainda abre canais realmente originais para a expressão artística e para o exercício de novas imagens poéticas. E o que eu não li, mas bem que deve ter passado pela cabeça dele, é que tanto o LSD quanto o computador podem "dar pau" e te jogar numa puta bad trip.