sábado, 8 de março de 2008

VODKA (remix)

O ato de mutilar uma obra de arte é tradicionalmente visto como um tipo de censura, ou de desrespeito. Mas na pós-modernidade sem lastro histórico, essa prática também vem sendo chamada de releitura.

O texto abaixo foi "editado" por mim, sem consulta à autora. Quem quiser conferir o original, tá publicado na revista CULT nº111, do mês de março de 2007.

VODKA Por Vanessa Maranha

Quanto a mim, continuo. Pouquíssimo constante e, ser for por aí, pelas retas de uma constância inexistente, então não, não continuo. (...)

Secreto? Não, em nada sou secreto. Aliás, ninguém o é. Tudo está posto e transparecido por sinais. Vê quem souber codificá-los. Mas continuo. Acho que um pouco mais intenso, acho que sem pressa. (...)

Ok. Continuo mirando o abismo, um flerte em si, ora avançando, mais cauteloso, um bocado medroso, procurando antes terra firme para onde eu possa voltar vivo e seguro. É incrível como corpo e coração vão sendo sentidos de um modo diferente na ligeireza aparentemente inerte do tempo. Você vê que aos poucos fui me tornando pesadão, macilento, quase escatológico, cada vez mais bicho. Umas refinações de contraponto, mas bicho. Agora selvagem. Não douro a pílula. (...)

(...)

Continuo em movimento. De vez em quando pauso, noutras saio feito doido por aí procurando, querendo, desejando. As coisas se repetem demais exaustivamente, não dá para ficar igual no vaivém dessas ondas. Não quero mesmo. Há muito descobri a falência na constância. Constante, só o infinito, que é dinâmico. Continuo aqui, ali, em lugar nenhum.

O que eu trago e ainda guardo em mim daquela época? Vejamos. Nem o sorriso? Ah, sim. A vontade do novo, pode ser? Não? Lealdade? Pensando bem, não sei descrever o tipo de lealdade que mantemos depois de certa idade. (...)

(...) Gosto muito dessa fluidez acetinada, resistente ao congelamento, essa coisa transparente algo oleosa da vodka. Gosto sim. Sou assim? Se deu certo o meu projeto? De vida? Como eu disse, continuo.

Vanessa Maranha é psicóloga e jornalista.

2 comentários:

Anônimo disse...

temas e estilo bem parecido com uma amiga sua, né?
eu achei
beijo

Anônimo disse...

Não sei, achei que tinha o meu estilo. Quem seria a amiga?