sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

CADEIRA FENOMENOLÓGICA

Quando publiquei esse post no meu primeiro blog, logo depois uma amigona minha comentou algo do tipo: "E você está sentado, esperando o que acontecer?".


Sento-me nessa cadeira que já conhece tão bem as minhas nádegas e também a de dezenas de crianças que diariamente gritam, xingam, cantam, comem, cospem e são felizes por alguns momentos do dia.

Sinto-me nessa cadeira, como um embusteiro, como uma engrenagem do sistema que coordena essas crianças rumo ao abatedouro, com um largo sorriso de apresentador de programa de auditório e penteado com laquê, como aquele sádico mestre de cerimônias, encantado com a ingenuidade e credulidade dessas pessoas que raramente se revoltam enquanto assistem com um copo na mão ao seu time vencendo no futebol.

Sonho nessa cadeira, com a fuga que se prenuncia no limiar da clareira que só está aí porque aí está o vazio que acolhe, com a ruptura radical entre aquilo que é e aquilo que sou.

Corro para longe dessa merda de cadeira que quase acaba comigo ao atrever-se a mostrar as coisas que ainda não são, nesse vazio originário e cheio de cadeiras. Escolho uma delas para não ficar em pé, cansado de esperar.

Cansado de algumas coisas. Coisas que já aconteceram, mas eu nunca deixei de pensar nelas. Até hoje as dúvidas me incomodavam, mas tudo parece bem claro. Algumas coisas não são nada além daquilo que são.

Um comentário:

Unknown disse...

O chão é o maior banco do mundo...