segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

CARTA A UM NOVO AMIGO

Caro M.,
espero que tenha voltado bem de viagem. Espero que você e a sua esposa estejam melhor agora. Rapaz, me desculpe por ter esquecido o nome da sua cara metade mais uma vez. Temos nos visto muito pouco nos últimos tempos, não é? Eu nem sabia que você estava nessa fase da vida. Sabe, passei a sentir uma afinidade maior por você agora, pois até isso estamos compartilhando, descobrindo juntos. Ambos entramos nessa fase no último ano, na fase de viver a vida a dois. E ainda estamos quebrando a cabeça para nos afinarmos com as surpresas que isso nos
traz.

Sabe do que estou dizendo, não é? Tenho conversado com outros homens recém casados ou recém "juntados", como nós, e o que mais escuto é sobre as brigas constantes. Não ouvi ninguém se queixar de dinheiro, de problemas com o vizinho ou com a sogra... o problema universal para nós, recém ingressos nesse barco, é o excesso de discussão pelas razões mais banais.

Tentei te falar um pouco disso no casamento do nosso amigo (o próximo que vai descobrir em breve a diferença brutal entre namorar a vida toda ou viver junto por mais de um mês). Tentei, no meio da festa de casamento do nosso caro colega, te dizer que essa fase deve passar, deve melhorar, mas que vai exigir que você e a sua esposa possam se abrir sem se ofenderem. Olha só, você sabe que eu nem a conheço, não é? E só você pode me dizer o que viu, ou o que pareceu aquilo que te deixou furioso na hora. Mas será que agora faz mais sentido o que eu te disse? Que ela estava lá com você e por você? Que se você escolheu viver a vida a dois com ela, é difícil crer que você tenha se enganado daquele jeito que te pareceu?

Será que foi muito esquisito eu ter chorado no seu ombro quando era eu quem estava lá para consolar você? Tentei te dizer que esse é um momento das nossas vidas que tende a melhorar. Sempre ouvimos falar das tais dificuldades do casamento e tínhamos a pretensão de achar que sabíamos muito bem que dificuldades seriam essas. Acontece que não sabíamos de nada; e não haveriam dificuldades se elas já fossem todas previstas. Não fizemos um investimento seguro, meu amigo, mas investimos no que acreditamos e isso fez todo o sentido naquele momento. Será possível que em tão pouco tempo possamos ter certeza de qualquer desgraça?

Compreendes? Imagino que sim. Não tive a oportunidade de ter a mesma conversa com a sua esposa, mas o rosto dela dizia tudo. Dê um voto de confiança, estava na cara que ela te ama, que sofreu pelo mal estar provocado ali e que não faria nada que desrespeitasse o compromisso que vocês assumiram juntos. Quando te empurrei para dentro da van, fiquei preocupado que você deixasse ela voltar sozinha para o hotel e que a situação piorasse no dia seguinte. Não sei se você preferia deixar para falar com ela com a cabeça mais fria, no dia seguinte. A minha aflição não deixou que você escolhesse por si mesmo. Mas também não achei que você devesse tomar muitas decisões por vontade própria naquele momento. Se acertei ou se só te enrolei, não posso saber agora, mas fiquei satisfeito por ter te convencido a entrar na van e pelo menos, voltar junto com ela.

Por último, só para ficar registrado, quero que saiba que eu teria dito tudo aquilo mesmo se não estivesse com a cabeça cheia de uísque. Tenho certeza disso. Como já falei, são situações muito parecidas que estamos vivendo na mesma época e eu também me deixo dominar pela emoção, não raras vezes. Mas precisamos, eu com a minha companheira e você com a sua, descobrir formas de nos comunicarmos, mesmo que de forma desequilibrada e emotiva, mas ainda com carinho e entendimento.

Abraços do cara que está sempre por aí, cada vez mais torcendo por ti.

Um comentário:

Anônimo disse...

mas o rosto dela dizia tudo. Dê um voto de confiança, estava na cara que ela te ama, que sofreu pelo mal estar provocado ali e que não faria nada que desrespeitasse o compromisso que vocês assumiram juntos.

deve ser isso que faz mais um sábado... e todos eles juntos.