quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

DIÁRIO DE GUERRA

Esse texto é um mistério; eu escrevi alguns desse estilo quando estagiava no Hospital das Clínicas, em 2001. Mas esse tem data de 2002 e eu lembro de ter escrito ainda no HC. Fica o mistério.

DIÁRIO DE GUERRA
6/2/02 - A situação está chegando num ponto em que não diferencio mais desejos e necessidades. Tudo parece um louco delírio, etéreo e fora de foco.

O pior momento parece ter passado, a sensação de estar preso nesse lugar é mais aterrorizante do que qualquer cena de violência brutal jamais presenciada. Aprendi a aceitar a brutalidade como reflexo de nossa condição animal, reflexo que só pode ser extravasado desse modo, ou de outros modos mais danosos, quase sempre levando a vícios ou à eterna insatisfação.

A realidade me esbofeteia até conseguir me tirar da realidade, me sufocando, puxando para todos os lados, levando o meu raciocínio ao limite da extinção. Mas o pior momento já passou, hoje consigo, como antes de estar aqui, transitar por entre momentos, fatos e lugares, de fato.

A claridade dá pistas para sair dessa mata fechada, os inimigos ainda estão em cima de mim. O desespero já não é meu vizinho, reconstruo o meu tempo, a saída está lá, mas não carregarei os inimigos nas costas. Inteligência, tenho que usar; violência, se precisar, o jogo ensina a perder e ganhar.

Quarenta e quatro minutos de jogo, fôlego baixo, mas reflexão em alta. É só o fim do primeiro tempo.

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