terça-feira, 8 de janeiro de 2008

De virada

Eles se conheceram numa festa, perto da época do aniversário dela. Ele foi no aniversário e lá estava ela com outro homem. Mas ambos sabiam que viveriam alguma coisa muito boa juntos e assim aconteceu. De lá até o fim do ano, se foram alguns meses de alegrias, carinhos, êxtases e gozos, junto com toda a dor e a fúria que uma paixão fulminante necessariamente traz.

Modernos que eram (ou queriam ser), mantiveram uma relação aberta, com tempo de sobra para outros parceiros, incluindo aí o ex-namorado dela. Quando o natal já era assunto entre eles, começaram a planejar os dias que passariam juntos até que cada um viajasse para um canto diferente. Ele iria de ônibus para o sul do país e ela, de carro, para uma praia no litoral norte de São Paulo. Até o natal, viveram uma paixão intensa, uma entrega que mataria qualquer um de inveja. Gozo e sofrimento misturados, ela perguntando como poderiam se fundir num só e ele já sentindo o aperto no peito pela viagem que os separaria.

Certo dia, ela falou: "Nego, fica contente vai, isso vai fazer bem pra nós. Eu vou voltar morrendo de saudades, te quero demais". Passado o natal, no dia da despedida eles estavam na rodoviária e ela tentava animá-lo: "Nego, você tá indo pra praia! Vai curtir o ano novo num lugar lindo!". Ele nada respondeu, virou o rosto enquanto andavam, engolindo as lágrimas que já queriam subir para os olhos. Sabiam que ficariam incomunicáveis por uma semana ou mais.

No dia 1o de janeiro, ele conseguiu ligar de um telefone público perto da praia e por 7 vezes tentou falar com ela. Mas ninguém atendia. No dia seguinte ele já estava de volta a São Paulo e ela ligou no seu celular. "Nego, tudo bem? Eu não estava em casa quando você me ligou ontem. Como você está? Estou morrendo de saudades de ti, meu querido!". Ele já engolia as lágrimas mais uma vez, dizendo que não estava aguentando mais a distância, que não podia mais ficar sem ela e que queria vê-la assim que ela voltasse, no final do próximo dia. Ela garantiu que ligaria para ele quando chegasse e ele ficou esperando.

Dois dias depois, ainda sem contato, ele vasculhou e-mails, orkut, mensagens no celular e não havia nem sinal de vida dela. Como sabia que ela tinha chegado na noite anterior, ligou do trabalho para a casa dela.

- Pretinha?

- Oi querido, posso te ligar em 1 minuto?

- Claro. Te acordei?

- Hum... mais ou menos. Já te ligo.

Uma hora mais tarde ele já estava nervoso, sentindo que algo não ia bem desde a virada do ano. Ele liga mais uma vez.

- Sou eu, Pretinha!

- Ai Nego, posso te ligar em 1 minuto?

- NÃO, NÃO PODE! ESSE 1 MINUTO JÁ DUROU MAIS DE 1 HORA!

- Puts, sério? Que horas são?

- Você ainda está dormindo?

- Hum... na verdade não.

Conversaram então, mas ela não quis prolongar o papo pelo telefone, queria vê-lo pessoalmente. Disse que ficara acordada até as 6 da manhã, apesar de não ter entrado na internet. Conhecendo a sua Pretinha o suficiente, ele estranhou e ficou constrangido em perguntar com quem ela poderia estar, pois não era segredo que a relação de ambos não era de exclusividade.

- Hoje eu não posso te ver - disse ele -, tenho reunião até de noite. Posso passar aí amanhã e te acordar?

- Pode sim, querido. Te espero amanhã.

No dia seguinte ele, todo apaixonado, foi cedo para a casa dela, ansioso pelo reencontro mais que tardio; queria ter nas suas mãos aquele corpo bronzeado e queria dizer a ela o quanto estava apaixonado. Assim que chegou, se beijaram, contaram de suas viagens um para o outro, tudo com muita felicidade e cumplicidade. Nesse ritmo, logo estavam nus e ele perguntou: "Cadê aquelas nossas camisinhas?". Ela constrangida, acabou abrindo o jogo:

- Quando eu voltei da praia, fui direto para a casa do Rick (o ex-namorado).

- Eu já imaginava minha Preta, eu sei que quando te liguei do trabalho você estava com ele aqui, sei que vocês passaram o dia juntos.

- Nego, eu dormi com ele já na noite em que cheguei.

- Você disse que ia me ligar...

- Sim, mas ele acabou me ligando também, disse que estava morrendo de saudades e que queria tanto me ver...

- Ah tá. E eu!? Eu não te disse isso tudo também? Você não disse que estava louca pra me ver? O que quer dizer isso agora?

(Semanas antes de viajarem ele imaginou isso tudo acontecendo.)

- Qualé Nego!? Se você tivesse me ligado, eu teria te encontrado sem nem piscar, mas quem me ligou foi ele!

- Ah, e agora a Dona FLor vai falar comigo desse jeito toda grossa?

- Desculpa. Eu não quis...

- Eu me sinto UM IDIOTA vindo aqui todo alegre atrás de você. E você acabou de dormir com ele, de novo né?

- Foi sim... eu estou dormindo com o Rick desde que voltei.

- Vocês voltaram, né? Por que não me diz que vocês estão juntos?

- Porque não estamos. Ele quer ter mais autonomia. Eu estava numa fase confusa quando terminamos. Ele fica com outras pessoa também, assim como nós.

- Eu não vi um motivo que tenha partido de você. Parece que não foi você quem quis esse término. Parece que eu estou forçando a barra no meio de vocês dois.

- Nego, nunca mais diga isso! Você não sabe como eu fiquei feliz quando você disse que vinha. Como eu fico feliz de você estar aqui comigo!

- Eu não sei mesmo. Você não me telefonou uma única vez e eu quase implorei pra você não desligar na minha cara ontem. Nem um e-mail, nem nada!

Aos poucos eles voltaram a se entender, ele percebia que criara muitas expectativas em cima de uma relação que nunca comportara esse tipo de entrega e ela assumia que não sabia bem o que estava fazendo, que viajara para se distanciar dos seus dois casos mais fixos e na volta já se envolvera numa situação mais do que estranha por causa deles.

No fim daquele dia ele pediu que ela o levasse de volta para casa. Sabendo que não passariam a noite juntos, ela liga para o Rick. Deixa o Nego na porta de casa dizendo "Você é o meu amorzinho, eu quero te ver de novo o quanto antes". Na sequência, passa na casa do ex-namorado para passar mais uma noite junto com ele.

3 comentários:

Anônimo disse...

Casa nova e um conto que repete a velha historia... Monogamia eh lenda? Me disseram que sim. Tomara. Assim vai acabar sendo artigo de luxo e exclusividade de quem sabe apreciar o que eh bom. Beijos :o)

Hipotenusa disse...

Nelson Rodrigues iria gostar.....

Beijocas e obrigada pela visita lá em casa..

Anônimo disse...

ela estava com vc e só com vc e o tipo de relação que vcs tinham, implicava sim nessa entrega, mas vc a traia todos os dias.
e ela se sentia cada vez mais só, estando com vc.